sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

EU MARCELO, UM SURDO NA FACULDADE.

Tá legal, o titulo não é grande coisa, mas vamos ao que interessa.

Quando perdi a audição em 1995, vi meu mundo desmoronar.  NINGUÉM me diminuiu por EU ter me tornado um SURDO. O mundo continuou o mesmo, fez sol de manhã e a noite veio a lua, as pessoas continuaram com seu cotidiano e os passarinhos continuaram assobiando.  Ei, para ai filho! Agora pegou pesado. Eu ouvia e não ouço mais. Bom, agora complicou tudo. O que será de mim? Não ouço nada, e meus sonhos? Coloco na gaveta? Desisto deles? Mas como assim? Sou tão jovem? Tenho só nove anos, EU QUERO OUVIR, QUERO VIVER!

E passando alguns meses após a minha DESCOBERTA da minha surdez, meus pais cogitaram a vender a casa para eu poder ter os dois AASI, na época estava caro e para meus pais, um casal jovem, com quatro filhos pequenos. Por sorte a família e amigos ajudaram financeiramente e rápido pude ter meus dois AASI, lindos e apaixonados. Recebi o aparelho em março de 1996, com nove anos nessa época, e voltei para a escola. 

Em 1995 eu havia sido reprovado, o motivo claro, A SURDEZ, meu rendimento caiu naquele ano e chegou ao ponto de ser preciso fazer tudo de novo... Mas em 1996 lá estava eu com meus aparelhos e por questão de sobrevivência aprendendo a LEITURA LABIAL.  Tá legal, NINGUÉM ME DISSE QUE SERIA FÁCIL.  Mas...  Ninguém sabe a força que há dentro de cada um de nós. Nossos limites é a gente mesmo que escolhe.

Fui um bom aluno, muitas vezes fui considerado um CDF (bom hoje nem chego perto). E sempre fui me destacando na escola, perguntava para o professor quantas vezes fosse preciso, isso até eu entender.  E foi assim, até eu me formar no ensino médio no ano 2003, então com 18 anos.  Bom, ai depois disso... Fiz alguns cursos, foi bacana aprender muita coisa nova. Mas sempre tive que focar na leitura labial, já que no meu caso com surdez profunda os AASI não ajudavam muito. 

Então com um curriculum bacana e alguns cursos, eu quis dar uma parada nos estudos, estava feliz e tranquilo, mas mesmo assim, muitos amigos e pessoas próximas, me perguntavam: E faculdade Marcelo? Quando você vai fazer a faculdade? E o meu medo era esse: EU ME ESCONDI NA SURDEZ. Imagina só, uma classe com 80 ou 100 alunos, talvez até mais. E eu surdo. Ah, esquece, não vou jogar dinheiro fora não.  Mas eu prometi  para mim, que se um dia eu estivesse ouvindo bem com algum aparelho, eu ia encarar a faculdade. Dito e feito, em julho/2011 fiz a primeira cirurgia do Implante Coclear e em março/2012 fiz a segunda.  E agora ouvindo legal, EU não teria desculpas para ir para a faculdade.  Meses depois me inscrevi para a faculdade. A principio fiz o primeiro semestre no curso de administração. É um curso muito bacana. Mas meu coração pediu para eu entrar em outra área e sem duvidas entrei para o curso de Propaganda e Marketing, sou apaixonado por isso.
Na faculdade tenho interprete de LIBRAS, é fantástico ter esse apoio, já que numa sala LOTADA não consigo acompanhar os debates feito em sala de aula, e nem todos os professores tem uma voz de fácil compreensão. Então valorizo muito o papel da minha interprete de LIBRAS. Sempre dando o suporte. E essa semana especialmente comecei a usar o ROGER PEN FM, fiz uma postagem no meu perfil do Facebook e quero compartilhar aqui com vocês

EMOÇÃO EM SALA DE AULA

Perdi a audição em 1995 aos 8 anos...
De lá para cá usei alguns modelos de AASI durante 16 anos. Há 3 anos e meio uso o Implante Coclear e há 3 dias estou usando o ROGER PEN FM.
Hoje. Exatamente hoje, na aula do professor Mario Galvão eu quis sentar no fundo da classe. Tive uma emoção forte. Pode parecer bobagem, mas para mim, foi como um grito de LIBERDADE.
Parece que o ROGER PEN FM foi um presente que me dei para eu "comemorar" esses 20 anos de surdez. A felicidade em acompanhar uma aula mesmo sentado lá no fundo, não cabem nas palavras.
Agora que já não estou dentro da sala. As lagrimas estão rolando. Quase 20 anos de surdez e hoje pude sentir aquele gosto especial de sentar no fundão e continuar ouvindo. Algo que eu achava que nunca ocorreria.

Atualmente estou no 5° semestre, quase terminando a faculdade. (mais dois anos, o que passa rápido) Adoro meu curso, e tenho professores incríveis, gosto de todos (Ei! Não estou pedindo nota não viu) também estudo com alunos incríveis e sei que posso contar com eles (Adoro vocês galera!)

 E hoje posso dizer que o medo de realizar um sonho é nosso. A gente tem que enfrenta-los e não arranjar desculpas. Temos sempre que buscar o melhor e nunca desistirmos daquilo que queremos ser. A deficiência auditiva não pode nos impedir de realizar nosso sonho, quem decide isso somos nós. 

Marcelo de Paula

domingo, 1 de fevereiro de 2015

EU JÁ FUI UM ANTI-IC

O titulo ás vezes pode parecer assustador né?
Mas relaxa, os tempos são outros, as pessoas mudam...
Mudam??? Como assim mudam??? Cada um tem a sua opinião.
Sim, as pessoas mudam, cada um sabe o que é melhor para si
E se forem crianças, os pais ou responsáveis vão escolher o que acharem melhor
Seja ensinar um surdo a oralização, seja através da escrita ou seja através da LIBRAS
Eu nasci ouvinte e aos 8 anos fiquei surdo...
Comecei a usar os dois AASI em março/1996, tudo bem que não era grande coisa, mas ajudou bastante. Cresci como qualquer pessoa, como direitos e deveres, e cumprindo todas as minhas obrigações.
Estudei, trabalhei, fiz o que as pessoas fazem. 
A unica diferença é que sou SURDO, sim, EU SOU SURDO, e dai? Isso não pode ser uma limitação para mim.
Então com os AASI eu fui crescendo (Os surdos também crescem) a minha comunicação era baseada em 50% de leitura labial e 50% de audição com o AASI, se eu estivesse apenas com o AASI e não fazer leitura labial, não entendia nada, e se fosse só leitura labial, sem o AASI de nada eu aproveitaria. E foi usando essa dupla dinâmica AASI+Leitura Labial que eu cresci na vida.
Aos 16 anos eu entrei para uma ONG e conheci dezenas de surdos que usavam LIBRAS. E lá fui eu me "enturmar" conquistei de cara a simpatia e o respeito dessa galera e já comecei a aprender LIBRAS, foi super bacana e uso até hoje em certas ocasiões.
Mas espere! Que texto mais confuso. Sim, agora eu conto aqui pra você leitor, eu NÃO queria o Implante Coclear NÃO QUERIA MESMO. Que papo é esse de "cortar a cabeça" para colocar um aparelho, se hoje temos o AASI???
Pois bem, o tempo vai passando e tudo vai evoluindo, e a gente sempre vai querer o melhor. E eu que já estava com meu 3° dupla de AASI queria comprar um novo, mais moderno e que eu poderia ouvir melhor... Ai testo um, testo outro, outro, outro e nada... Esquece esse papo Marcelo, você é surdo e pronto, não tem aparelho pra você... Ai pensei. E a cirurgia do Implante Coclear, por que não testar? Se não der certo, não vou perder nada mesmo. Sei libras, sei escrever e tenho muitos amigos, se são meus amigos de verdade, eles vão continuar me amando. independente de eu fazer a cirurgia ou não.
Foi então em em 2010, cansado de esperar um AASI moderno para mim, eu optei pelo Implante Coclear. Meus pais e amigos foram contra. Mas quer saber? Eu já era grande para decidir o que eu queria para mim, e meu objetivo era ouvir melhor, mesmo que fosse apenas 1% e encarei essa aventura sem medo, afinal eu não tinha nada a perder
Eu era uma pessoa que era contra o Implante Coclear e me tornei uma pessoa perdidamente apaixonada por essa tecnologia, pode parecer loucura, e na verdade eu acho que é. Já são 3 anos e meio que operei e não tenho duvida nenhuma: Eu faria tudo de novo. 
O tempo muda e gente decide o que é melhor.
Fui feliz em todas as minhas escolhas.
"Com o tempo a gente sabe o que é melhor para gente, eu não tive medo de procurar aquilo que eu achava que não daria certo. E mesmo muita gente torcendo contra e fui em frente. Entrei de cabeça, Claro que não tive muitas expectativas. Mas tudo que eu mais queria era ouvir melhor. Mesmo que fosse apenas 1%"